1.4.17

sobre educação, política e sindicalismo


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a maior doença não é a loucura, é a miséria. O chamado "louco" em 90% dos casos é um homem carente de formação profissional, afeto e atenção. Seu confinamento não resolve, mas agrava o problema, torna-o um doente crônico. Ele é necessário para manter os hospitais psiquiátricos, a equipe de burocratas e para dar a impressão de que aquele que está alem dos muros do hospício é "normal". Na realidade, o que está fora do hospício ainda é produtivo para a reprodução do capital, o que está dentro tornou-se improdutivo à reprodução do capital, em função de doenças sociais contraídas na maioria por péssimas condições de trabalho: ruído industrial, jornada extensa de trabalho, aumento da ansiedade e tensão nervosa em consequência de um urbanismo a serviço do capital. Essa é a razão pela qual Basaglia abriu os manicômios italianos, terminou com o confinamento dos "loucos" e se preocupa hoje em mobilizá-los na luta contra a pobreza, causa primeira da pretensa "loucura". O diagnóstico médico psquiátrico tem função ideológica, ele individualiza a doença tornando o doente culpável da doença social e, ao mesmo tempo, tranquiliza as "boas almas" que detêm o poder econômico e político que aquele doente não irá perturbá-los. É o exemplo do célebre caso "Galdino", um camponês do interior paulista que curtiu oito anos de internação no depósito de doentes chamado "Hospital Psiquiátrico de Franco Rocha", no Estado de São Paulo, sob o diagnóstico de "atitude paranóide". Na realidade, era um camponês que possuía liderança na sua região e atemorizava os donos do poder, que conseguiram "interná-lo" como "doente mental". Como se vê, no Brasil também a internação psiquiátrica cumpre fins repressivos cobertos de aparência "médica" ou "científica". No mesmo sentido, constatou Moffat em sua Psicoterapia del oprimido estudando casos em Buenos Aires.

Uma real educação deve ser fundada num princípio básico: 
sem prêmios ou castigos.

Maurício Tragtenberg
Caxias do Sul, 1979