31.8.17

paris: may 1968


Rua Gay-Lussac
Domingo, 12 de maio

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A propaganda através de inscrições e desenhos em muros e paredes é uma parte integrante da Paris revolucionária de Maio de 1968. Ela se tornou uma atividade de massa, parte e parcela do método de auto-expressão da Revolução. Os muros do Quartier Latin são os depositários de uma nova racionalidade, não mais confinada nos livros, mas sim democraticamente exposta no nível da rua e tornada disponível a todos. O trivial e o profundo, o tradicional e o exótico, o convívio íntimo nessa nova fraternidade, quebrando rapidamente as rígidas barreiras e divisões na cabeça das pessoas.

"Désobéir d'abord: alors écris sur les murs (Loi du 10 Mai 1968)" a tinta ainda está fresca e a mensagem é clara. "Si tout le peuple faisair comme nous" ansiosamente sonha outra, em uma alegre intuição, penso eu, mais do que em um espírito de substitucionismo vindo de uma auto-saciação. A maioria dos slogans é direta, precisa e completamente ortodoxa: "Liberez nos camarades", "Fouchet, Grimaud, demisson", "A bas l'État policier", "Greve Générale Lundi", "Travailleurs, étudiants, solidaires", "Vive les Conseils Ouvrièrs". Outros slogans refletem novas preocupações: "La publicité te manipule", "Examens=hiérarchie", "L'art est mort, ne consommez pas son cadavre", "A bas la societé de consommation", "Debout les damnés de Nanterre. O slogan "Baisses-toi et broute" é obviamente direcionado àquelas pessoas mais conservadoras.

"Contre la fermentation groupusculaire" queixa-se uma grande inscrição escarlate. E está realmente fora de compasso. Em todos os lugares há uma profusão de cartazes e periódicos colados: Voix Ouvrière, Avant-Garde e Révoltes (dos trotskistas), Servir le Peuple e Humanité Nouvelle (dos devotos do líder Mao), Le Libertaire (dos anarquistas), Tribune Socialiste (do PSU - Parti Socialiste Unifié, Partido Socialista Unificado). Até mesmo estranhas edições de l'Humanité estão coladas. É difícil lê-las, de tão cobertas que estão por comentários críticos.

Em um tapume, eu vi um grande anúncio de um novo queijo: uma criança mordendo um enorme sanduíche. O jargão dizia "C'est bon le fromage Soand-So". Alguém cobriu as últimas palavras com tinta vermelha. No cartaz ficou escrito "C'est bon la Révolution". As pessoas passam, olham e sorriem.

Solidarity
Trad.: Leo V.