20.12.17

fatalidade da revolução


Não se cria nem se improvisa a revolução, ela é um fato incontestável para os anarquistas; para eles, é um fato matemático, decorrendo da má organização social atual; seu objetivo é que os trabalhadores sejam bem instruídos sobre as causas de sua miséria para que saibam aproveitar a revolução que fatalmente realizarão, e que evitem ter os frutos arrancados pelos provocadores de intrigas que buscarão substituir os governantes atuais, a fim de trocar, sob diferentes nomes, um poder que seria apenas a continuação daquele que o povo viria a derrubar.

Não adianta o Estado aumentar sua polícia, seu exército, seus empregos; os aperfeiçoamentos proporcionados pela ciência, o desenvolvimento do instrumental mecânico jogam todos os dias um novo contingente de trabalhadores desocupados nas ruas, e o exército dos famintos cresce cada vez mais, a vida torna-se a cada dia mais difícil, maior o número de desempregados e cada vez mais longos os períodos de desemprego.

Não está distante o tempo em que aqueles que temem a revolução começarão a encará-la com menos temor e a desejá-la com todo ardor. E, nesse dia, a revolução estará no ar, e bastará pouca coisa para que ecloda, provocando, em seu turbilhão, o assalto do poder e a destruição dos privilégios por aqueles que atualmente só a encaram com temor e desconfiança.

Para nós, a revolução social a ser feita apresenta-se sob o aspecto de uma longa sequência de lutas, de transformações incessantes que poderão durar longos anos, em que os trabalhadores, derrotados num lado, vencedores no outro, chegarão gradualmente a eliminar todos os preconceitos, todas as instituições que os esmagam, e em que a luta, uma vez começada, só poderá chegar ao fim quando, tendo finalmente destruído todos os obstáculos, a humanidade puder evoluir livremente.

Os trabalhadores de uma nacionalidade só poderão triunfar e emancipar-se em seu país se os trabalhadores vizinhos também se emancipem. Só conseguirão livrar-se de seus senhores se os senhores de seus irmãos vizinhos não puderem socorrer outros senhores. A solidariedade internacional de todos os trabalhadores é condição sine qua non do triunfo da revolução.

Piotr Alekseievitch Kropotkin
Trad.: Plínio Coelho